quinta-feira, 11 de março de 2010

sobre a espera no banco

Cheguei ao banco e tinha uma menina parada na porta giratória com um colete azul ridículo que a fazia parecer 3x menor do que é. Pedi informação e ela me mandou pra outra menina com o mesmo colete que me mandou entrar numa fila e repetir pela 3ª vez o que eu tinha dito pra elas.

O senhor me perguntou se alguém já tinha me dito sobre minha semelhança com a Angelina Jolie. Ri alto do comentário, o que fez todas as pessoas olharem pra mim, porque não sei rir socialmente. Ele disse que sim, que minha boca parecia com a dela, o que me fez questionar o porque dele não me dizer diretamente que minha boca parecia com a da Angelina, mas não disse. Ele disse que era pra eu pegar a senha e esperar eu ser chamada. Senha 088.

Tenho pânico de portas giratórias de banco. Estou sempre preparada pro alarme soar, a porta travar, todos do banco olharem para mim e eu ter que voltar desajeitadamente pra colocar meus pertences naquela portinha mágica. O que me faria passar mais vergonha ainda porque minhas bolsas são sempre uma confusão. Até achar o que travou a porta seria um custo. Mas a porta não travou.

Entrei e procurei uma cadeira mais segura pra sentar. Leia-se: sem ninguém ao lado. Mas não achei. Sentei ao lado de uma loira que estava lendo uma revista com a Beyoncé na capa. Logo me arrependi de não ter levado o livro que estou lendo, porque tinha apenas um cara desajeitado e lento atendendo toda aquela gente. Ele tinha um maxilar maravilhoso envolto por uma barba por fazer. Mas a camisa que ele usava era de um laranja tão horroroso, que interrompi imediatamente minha leitura do macho alfa.

Ah, a impaciência da espera. Comecei a olhar pra todos os lados. Sacodir a perna. Abrir a bolsa procurando não sei o que, olhar as unhas e me martirizar mais uma vez sobre o livro que eu tinha esquecido em casa.

Um homem que estava uma cadeira depois da minha, começou a reclamar sobre a espera. Olhei pra ele e constatei: gay. Já gostei, porque está pra existir alguém que goste mais de bibas do que eu. Relaxei e comecei a conversar com ele.

Em 10 minutos de conversa já eramos amigos de infância. Eu contei sobre minha mudança pra capital e ele sobre a filha que tinha e que estava indo embora pra Minas. Quase uma história inversa, porém eu não tenho filha, e não sou gay. Ele me deu uma balinha macia, que eu aceitei de imediato e só lembrei sobre não-aceitar-balas-de-estranhos quando cheguei em casa e fui jogar o papel de bala fora.

A senha dele era 086, mas ele estava lendo 680. Quase perdeu a vez. A senha dele foi chamada. A minha não muito depois. Mudei meu endereço no sistema. Fiz meu cartão cidadão. Agradeci a educação do senhor que me atendeu e voltei pra casa. Sem antes passar na floricultura e comprar um vaso de flores. Flores tais que, de acordo com minha amiga, são pra levar pra cemitério. Mas deixa, é flor, é viva e deixou o apartamento mais delicado.

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